No último ano eu tenho falado menos de obesidade, e mais dos outros excesso: o excesso de restrição que vemos por aí. Pessoas que vivem em dieta, que sofrem a cada vez que passam por um espelho, que se machucam tentando mudar o formato de seus corpos. Recebo muito feedback positivo, mas uma pergunta que sempre volta e que me causa um aperto no coração é “mas como eu serei feliz se eu não for magra?”.
Já acessei essa pergunta em lives, mas como ela sempre sempre volta, resolvi escrever este texto. Há muitas questões nessa aparentemente simples queixa. A primeira é a de achar que meu trabalho está em ir contra todas e quaisquers dietas. Nunca disse isso. Quando eu critico restrições, estou falando com aquelas pessoas que estão SOFRENDO com as restrições que estão fazendo. Se você está buscando um corpo mais magro e mais atlético de uma maneira que te faz FELIZ, genuinamente feliz, tudo certo. Agora, se você sente culpa, chora escondido, se tortura, não para de pensar no que deve ou não comer — você e eu, vamos conversar?
A pessoa que fala a frase “mas como eu serei feliz se eu não for magra?” claramente está no segundo grupo, certo? E para este grupo, a minha pergunta é, “mas quando você for magra você vai ser feliz?”. Porque esta é a imagem que as pessoas tem: eu estou infeliz comigo porque estou a cima do peso. Quando vemos alguém fora do padrão de beleza atual parece racional: a sociedade inteira diz que ela não é bela, isso causa sofrimento, logo se ela se adequar, ela será feliz, certo? Errado.
Entenda não estou falando da pessoa que olha no espelho, pensa tranquilamente “gostaria de melhorar x, y, z”, e procura profissionais para ajuda-la a alcançar este objetivo. Estou falando de pessoas que se torturam psicologicamente em relação ao seu corpo. Quando temos um grau de insatisfação com si mesmo que se torna tortura psicológica, o problema não está no tamanho da calça, está na relação dela com ela mesma. Esta pessoa pode mudar completamente o corpo dela, mas ela nunca estará feliz consigo mesma, porque ela nunca mudou o que importa: como ela se vê.
Por isso, sim, algumas pessoas com distúrbios alimentares e de imagem vão engordar em um período do tratamento, outras não; algumas vão decidir que nunca mais querem fazer dieta, outras vão procurar um novo tipo de guia alimentar que seja mais gentil com elas; tudo isso vai variar caso a caso, mas nada disso importa no início. Tudo isso é fumaça, o que me importa é o incêndio: a má relação que a pessoa tem com si mesma.
Então não devemos pensar “mas como eu serei feliz se eu não for magra?”, devemos pensar “como eu serei feliz comigo mesma?”. Depois disso, o tamanho da sua circunferência ao seu médico e à atendente da loja onde você comprar roupas.